Esse texto aponta considerações sobre a
normose, suas características e critérios para que se possa afirmar se uma
pessoa ou uma época são normóticas.
Normose é uma normalidade doentia e pode ser
definida como um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos
de agir e pensar que são aprovados pela maioria em uma determinada sociedade e
que provocam sofrimento, doença e até morte. É a estagnação do desejo, que
impede o fluxo evolutivo e a necessidade constante de ser como os outros.
Seguir normas cegamente, sem escutar a voz
interior é o mesmo que tornar-se escravo e tomar consciência da normose e o que
está causando a mesma é libertador.
A normose se inicia quando a criança passa a
querer corresponder á imagem que os pais têm dela, nessa tentativa a criança
terá medo de não conseguir corresponder e frustrar aos seus pais.
Na fase adulta, numa escolha profissional,
por exemplo, a pessoa pode buscar atender ao desejo proveniente do meio
familiar ao invés de ouvir o seu próprio desejo e o mesmo pode ocorrer na
escolha de um cônjuge e outras situações em que a pessoa entra num
“conformismo” e acomodação, fazendo escolhas que poderão “satisfazer” as
expectativas de todos, menos as suas mais íntimas necessidades.
Não se trata da questão de dizer que o que os
pais, familiares e a sociedade como um todo querem e sugerem seja ruim, mas
trata-se de não se esquecer do íntimo que habita em nós.
A proposta em psicoterapia é identificar o
que é desejo íntimo e profundo do ser e o que é busca de correspondência dos
desejos dos pais e ou sociedade. A psicoterapia tem por objetivo auxiliar a
pessoa no encontro da sua identidade e autenticidade que é perdida ou
abandonada ao longo da vida pelo medo de que se perca o que foi construído no
ambiente das relações parentais, familiares e sociais.
O desafio é estabelecer a diferenciação das
imagens de homens e mulheres que a sociedade incute em nós e nesta etapa surge
o chamado “complexo de Jonas” que é o medo da própria grandeza e o conflito
entre a exigência de justiça e verdade e a exigência de uma realidade que,
nele, é maior do que a verdade e a justiça.
Outro fator que leva a pessoa a viver a
normose é a comparação. Cada um de nós tem seu talento e habilidade própria que
deve ser considerada e valorizada por nós possibilitando assim o
desenvolvimento pessoal a partir de sua própria vocação e não a partir de um
único padrão. “O grande arquiteto da vida providenciou que houvesse flores de
todas as cores, para que um jardim pudesse exalar a natural harmonia decorrente
da unidade na diversidade” (Roberto Crema).
Há como comparar uma rosa e um jasmim ou uma
margarida? Escolher a comparação é optar pelo constante sofrimento.
Existe também a normose do “paraíso perdido”
em que a pessoa acredita na possibilidade de felicidade permanente e absoluta e
a busca fora de si, num casamento, por exemplo, no trabalho, num amigo e nessa
busca externa decorre a infelicidade.
A normose da separatividade está
caracterizada pelas atitudes e sentimentos de apego, rejeição a tudo o que
causa dor ou ameaça, possessividade, ciúmes, competição, rivalidade, orgulho e
vaidade quando se tem apego a uma auto-imagem de superioridade perante aos
outros, medo, agressão e raiva. Emoções e sentimentos destrutivos refletem em
nosso organismo, sob forma de tensão, atacando o sistema endócrino e provocando
o adoecimento.
Há a normose do consumismo, normose na área
da alimentação com o consumo exagerado de alimentos que não são saudáveis,
alimentos industrializados, enlatados, refinados, corantes, normose do
alcoolismo e tabaco, normose da invisibilidade social, normose do uso excessivo
da tecnologia, normose política em que valores éticos são trocados pelo desejo
de poder.
A espontaneidade é o que nos tira da normose,
o despertar! (Moreno).
O existencial precisa ser cuidado para que o
essencial transpareça. O saudável é ter qualidade de vida e bem estar.
Texto
escrito por: Helen Cristina Sellmer Zeviani
Psicologa
Clínica – CRP:06/87036 SP
Contato:
(11) 3446-8110 e (11) 99825-6475
Fonte: Livro Normose – A Patologia da Normalidade – Autor
Jean Yves Leloup e Roberto Crema – Editora Versus
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