domingo, 22 de novembro de 2015

Normose - A Normalidade Doentia


Esse texto aponta considerações sobre a normose, suas características e critérios para que se possa afirmar se uma pessoa ou uma época são normóticas.
Normose é uma normalidade doentia e pode ser definida como um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de agir e pensar que são aprovados pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e até morte. É a estagnação do desejo, que impede o fluxo evolutivo e a necessidade constante de ser como os outros.
Seguir normas cegamente, sem escutar a voz interior é o mesmo que tornar-se escravo e tomar consciência da normose e o que está causando a mesma é libertador.
A normose se inicia quando a criança passa a querer corresponder á imagem que os pais têm dela, nessa tentativa a criança terá medo de não conseguir corresponder e frustrar aos seus pais.
Na fase adulta, numa escolha profissional, por exemplo, a pessoa pode buscar atender ao desejo proveniente do meio familiar ao invés de ouvir o seu próprio desejo e o mesmo pode ocorrer na escolha de um cônjuge e outras situações em que a pessoa entra num “conformismo” e acomodação, fazendo escolhas que poderão “satisfazer” as expectativas de todos, menos as suas mais íntimas necessidades.
Não se trata da questão de dizer que o que os pais, familiares e a sociedade como um todo querem e sugerem seja ruim, mas trata-se de não se esquecer do íntimo que habita em nós.
A proposta em psicoterapia é identificar o que é desejo íntimo e profundo do ser e o que é busca de correspondência dos desejos dos pais e ou sociedade. A psicoterapia tem por objetivo auxiliar a pessoa no encontro da sua identidade e autenticidade que é perdida ou abandonada ao longo da vida pelo medo de que se perca o que foi construído no ambiente das relações parentais, familiares e sociais.
O desafio é estabelecer a diferenciação das imagens de homens e mulheres que a sociedade incute em nós e nesta etapa surge o chamado “complexo de Jonas” que é o medo da própria grandeza e o conflito entre a exigência de justiça e verdade e a exigência de uma realidade que, nele, é maior do que a verdade e a justiça.
Outro fator que leva a pessoa a viver a normose é a comparação. Cada um de nós tem seu talento e habilidade própria que deve ser considerada e valorizada por nós possibilitando assim o desenvolvimento pessoal a partir de sua própria vocação e não a partir de um único padrão. “O grande arquiteto da vida providenciou que houvesse flores de todas as cores, para que um jardim pudesse exalar a natural harmonia decorrente da unidade na diversidade” (Roberto Crema).
Há como comparar uma rosa e um jasmim ou uma margarida? Escolher a comparação é optar pelo constante sofrimento.
Existe também a normose do “paraíso perdido” em que a pessoa acredita na possibilidade de felicidade permanente e absoluta e a busca fora de si, num casamento, por exemplo, no trabalho, num amigo e nessa busca externa decorre a infelicidade.
A normose da separatividade está caracterizada pelas atitudes e sentimentos de apego, rejeição a tudo o que causa dor ou ameaça, possessividade, ciúmes, competição, rivalidade, orgulho e vaidade quando se tem apego a uma auto-imagem de superioridade perante aos outros, medo, agressão e raiva. Emoções e sentimentos destrutivos refletem em nosso organismo, sob forma de tensão, atacando o sistema endócrino e provocando o adoecimento.
Há a normose do consumismo, normose na área da alimentação com o consumo exagerado de alimentos que não são saudáveis, alimentos industrializados, enlatados, refinados, corantes, normose do alcoolismo e tabaco, normose da invisibilidade social, normose do uso excessivo da tecnologia, normose política em que valores éticos são trocados pelo desejo de poder.
A espontaneidade é o que nos tira da normose, o despertar! (Moreno).
O existencial precisa ser cuidado para que o essencial transpareça. O saudável é ter qualidade de vida e bem estar.
 
 Texto escrito por: Helen Cristina Sellmer Zeviani
 Psicologa Clínica – CRP:06/87036 SP
 Contato: (11) 3446-8110 e (11) 99825-6475 
 
Fonte: Livro  Normose – A Patologia da Normalidade – Autor Jean Yves Leloup e Roberto Crema – Editora Versus
 

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